
"CARTA AO MEU PAI
O tempo se apaga, não existe. Foi ontem que eu te olhei fechando os olhos e agora aqui estou para ver de perto o que restou de ti: a grama verde, o vaso de flores, uma pequena placa com teu nome, o dia do teu nascimento e o dia da tua morte.
Sei que nada resta de ti neste lugar, meu pai, mas não deixa de ser triste este encontro, este lembrar sempre das coisas, daquele quarto de hospital, a janela aberta, as pessoas correndo de um lado para outro, uma mulher que vendia flores na esquina. Não te lembras?
Como não lembrar, pai, se era essa a paisagem que viveste os últimos tempos da tua vida? Mas o tempo se apaga, não existe.
Um dia abristes o olhar para mais longe de ti e vistes cavalos entre nuvens, na tua garrafa de cerveja, no teu cigarro, na tua caixa de fósforo. Os cavalos eram dourados, eram de ouro, com uma crina branca cavalgando no céu e na distância que nenhum de nós via.
Não sorristes porque não tinhas mais sorrisos no teu rosto magro, mas apontastes teu dedo, a pele amarelada, para as nuvens que vias atrás da janela aberta.
Abristes os olhos, olhou. Depois fostes murchando a vida. Mandastes fechar a cortina, a porta e ficamos quietos ante a tua espera. Não demorou e respirastes fundo a dificuldade de continuar aqui. Depois te levaram para uma capela.
O tempo se apaga pai, não sei quanto faz, o tempo não existe. Agora aqui estou para ver o que restou de ti, além de teu retrato, além de tua roupa.
Deves estar olhando de algum lugar, lendo estas linhas nascendo como uma carta para ti no dia nesse dia. Talvez seja um erro, eu não sei, mas as pessoas se soltam e viram anjos no infinito como pombas que nunca param de voar.
As pessoas, pai, olham para o fundo, temem a vida e a vida teme as pessoas.
A grama verde úmida, as flores.
Todas as pessoas com flores nas mãos, rezando, chorando. As crianças brincando.
Gostavas de crianças, lembras? As crianças brincavam e aqui parece mesmo um parque para se lembrar.
O tempo se apaga, pai, não existe.
Eu vejo o teu aceno amplo me acenando de outro tempo, de outra vida que vives para tua continuação.
Assim se faz o segredo desta morte.
Nada detém este ritmo. Não estou nem triste nem alegre.
Apenas te escrevo uma carta sem saber como terminar..."
(A.D.)

É pai...
A vida tinha outros planos. E há 1 ano atrás ela nos pregou uma peça.
Você se foi sem se despedir.
E nós ficamos aqui...com a saudade como companhia.
A vida tinha outros planos. E há 1 ano atrás ela nos pregou uma peça.
Você se foi sem se despedir.
E nós ficamos aqui...com a saudade como companhia.
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